terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Capítulo 3 / parte 1.

            A data escrita por Sarah, minha irmã, no cabeçalho da primeira folha indicava que ela começara e escrever aquela mensagem no caderno com o meu nome escrito na capa há dois anos, o que provava realmente que ela não tinha idéia de quando aconteceria. Comecei a ler:

            “Querida Rebeca, se você está lendo é porque você não subiu. E se você não subiu é porque você não acreditou no que sempre dizíamos.
            Em primeiro lugar, Rebeca, por que você não acreditou? Os sinais, milagres e prodígios de Deus estavam presentes e bem claros dentro da nossa casa, dentro da nossa vida; eu realmente não vejo justificativa concreta para que você não tenha acreditado.
            Sabe o porquê de você ter nascido? Milagre. Mamãe não podia mais ter filhos e alguém lhe contou sobre Jesus. Ela aceitou e entrou num propósito com Deus, declarou que nenhum espírito de malignidade a impediria de ter mais um filho. Ela jejuava, ela orava, ela clamava e louvava a Deus pedindo para engravidar. E então você foi concebida.
            Seu ventre foi ungido no terceiro mês de gestação, porque lançaram uma palavra contra ela, dizendo que você não nasceria perfeita, teria problemas de saúde ou até que não nasceria. Seis meses depois você estava em nossos braços, perfeita. Dizíamos que você era o nosso presente. E nós sempre contamos essa história para você. Você acreditava? Não.”

            A primeira lágrima desceu de meus olhos. Com tudo o que estava acontecendo, eu era forçada a acreditar que eu fui concebida e gerada debaixo de um milagre. Porque agora eu via que Deus existia de fato. Continuei:

            “Você tinha dez anos e eu quinze. Eu tinha leucemia e logo no início, todos os dias, os irmãos da igreja que eu, papai e mamãe freqüentamos vinham em casa impor as mãos sobre mim e interceder pela minha cura.
            Você não se aproximava. Pelo contrário, reclamava do volume das orações.
            Eu piorei muito, fui levada ao hospital e o tratamento começou a ser feito. As pessoas não deixavam de comparecer, todos os dias, naquele hospital e orar por mim, pela minha cura. O tratamento não durou duas semanas; recebi o diagnóstico de que não havia mais câncer algum. O que levou você a não acreditar?”

            Tudo parecia fazer sentido agora. Eu nem ao menos me impressionei com a cura tão repentina da minha irmã. Eu não buscava nem ao menos uma justificativa para ela ter sido livrada de um câncer assim tão de repente.
            E não era só isso. A cada dia, eu via meus pais e a minha irmã prosperarem cada vez mais em todas as áreas de suas vidas. Eu nunca os via chorar. Nos momentos em que todos obviamente chorariam ou sofreriam, a minha família sorria e agradecia. E eu? Eu não entendia.

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Admito que errei em tê-los abandonado dessa forma e peço perdão.
Eu digitei o que eu havia escrito durante algumas aulas e no meu horário de trabalho, mas o word perdeu a maior parte inesperadamente.
Hoje à noite, ou assim que chegar em casa, termino o que falta do terceiro capítulo e posto, sem falta.

Que a paz do Senhor esteja com todos vocês.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Capítulo 2 -

            Eu me via sozinha. Completamente sozinha num mundo que, como meu pai me alertara horas antes, não teria mais paz. Talvez eu pudesse ter pensado em permanecer trancada em casa até eu não poder mais sobreviver. Porque tinha medo de ser morta assim que saísse. Eu pensei na igreja que a minha família freqüentava. Será que havia alguém que tinha ficado também?
            Provavelmente ninguém havia ficado. Eu devia ser a única pessoa em todo o globo que não permitira que a verdade me libertasse. Porque uma vez eu ouvi minha mãe dizer algo parecido com, “conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. Eu conhecia a verdade. Mas não havia permitido que ela me libertasse, porque eu não acreditava que era verdade.
            Por que, eu me perguntava, eu não aceitei no momento seguinte ao que meu pai terminou de falar sobre como seria a volta de Jesus? Eu estaria lá com a minha família.
            Eu queria apenas ter um pouco mais de conhecimento, saber o que aconteceria a seguir. Saber o que eu podia fazer para me proteger. Eu precisava de alguém ou alguma coisa que me ensinassem o que fazer.
            Deitada no sofá da sala, olhei para cima. Não sabia a quem recorrer.
            - Deus? – talvez fosse o único em quem eu podia pensar. – Você ainda está aqui na terra?
            Se Ele estivesse, por que Ele responderia àquela que sempre o desprezou? Deixei isso de lado e subi para o quarto da minha irmã. Não tinha coragem de tocar suas roupas que estavam deixadas em cima de sua cama. Olhei para sua mesa, onde fazia seus estudos e vi suas fotografias. Uma dela sozinha, uma dela comigo, uma com o namorado, uma com meus pais, uma de toda a família e duas ou três com seus amigos. Todos aqueles haviam ido, menos eu.
            Mexi em seus papéis, cadernos e blocos de anotações. Em cada um deles tinha uma parte da Bíblia escrita. Havia livros que falavam de Deus. Minha irmã sonhava em ser pastora. Sonhava em abrir igrejas por todo o mundo. Eu achava tudo isso uma idiotice. Achava ridículo, perda de tempo. Ela vivia uma vida em santidade e agora estava vivendo a recompensa por ter sido tão fiel.
            Então eu vi um caderno que nunca havia visto junto às suas coisas. Meu nome estava escrito em vermelho na capa do caderno. Eu queria saber o que tinha naquele caderno, mas tinha muito medo. Na capa de trás estava escrito, também em vermelho, “você se verá sozinha e se perguntará: ‘por que não lhes dei ouvidos? Eles só queriam o melhor para mim’”.
            Desci com o caderno de baixo do braço e sentei-me no sofá, tentando conseguir coragem para abri-lo e ver o que minha irmã queria. Eu tinha a sensação de que nunca mais estaria em silêncio: a cada segundo, ouvia-se uma explosão. Barulhos de carros colidindo, aviões caindo em toda a cidade, pessoas gritando desesperadas, helicópteros prontos para resgatar os que sobreviveram ou não foram levados.
            Eu respirei fundo e disse para mim mesma que abriria o caderno.