segunda-feira, 2 de março de 2009

Sonho.

Eu realmente não sei por quanto tempo eu vou ficar sem escrever, devido ao sonho que eu tive de sábado para domingo. Realmente não me fez bem...

Deus abençoe a todos.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Capítulo 3 / parte 1.

            A data escrita por Sarah, minha irmã, no cabeçalho da primeira folha indicava que ela começara e escrever aquela mensagem no caderno com o meu nome escrito na capa há dois anos, o que provava realmente que ela não tinha idéia de quando aconteceria. Comecei a ler:

            “Querida Rebeca, se você está lendo é porque você não subiu. E se você não subiu é porque você não acreditou no que sempre dizíamos.
            Em primeiro lugar, Rebeca, por que você não acreditou? Os sinais, milagres e prodígios de Deus estavam presentes e bem claros dentro da nossa casa, dentro da nossa vida; eu realmente não vejo justificativa concreta para que você não tenha acreditado.
            Sabe o porquê de você ter nascido? Milagre. Mamãe não podia mais ter filhos e alguém lhe contou sobre Jesus. Ela aceitou e entrou num propósito com Deus, declarou que nenhum espírito de malignidade a impediria de ter mais um filho. Ela jejuava, ela orava, ela clamava e louvava a Deus pedindo para engravidar. E então você foi concebida.
            Seu ventre foi ungido no terceiro mês de gestação, porque lançaram uma palavra contra ela, dizendo que você não nasceria perfeita, teria problemas de saúde ou até que não nasceria. Seis meses depois você estava em nossos braços, perfeita. Dizíamos que você era o nosso presente. E nós sempre contamos essa história para você. Você acreditava? Não.”

            A primeira lágrima desceu de meus olhos. Com tudo o que estava acontecendo, eu era forçada a acreditar que eu fui concebida e gerada debaixo de um milagre. Porque agora eu via que Deus existia de fato. Continuei:

            “Você tinha dez anos e eu quinze. Eu tinha leucemia e logo no início, todos os dias, os irmãos da igreja que eu, papai e mamãe freqüentamos vinham em casa impor as mãos sobre mim e interceder pela minha cura.
            Você não se aproximava. Pelo contrário, reclamava do volume das orações.
            Eu piorei muito, fui levada ao hospital e o tratamento começou a ser feito. As pessoas não deixavam de comparecer, todos os dias, naquele hospital e orar por mim, pela minha cura. O tratamento não durou duas semanas; recebi o diagnóstico de que não havia mais câncer algum. O que levou você a não acreditar?”

            Tudo parecia fazer sentido agora. Eu nem ao menos me impressionei com a cura tão repentina da minha irmã. Eu não buscava nem ao menos uma justificativa para ela ter sido livrada de um câncer assim tão de repente.
            E não era só isso. A cada dia, eu via meus pais e a minha irmã prosperarem cada vez mais em todas as áreas de suas vidas. Eu nunca os via chorar. Nos momentos em que todos obviamente chorariam ou sofreriam, a minha família sorria e agradecia. E eu? Eu não entendia.

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Admito que errei em tê-los abandonado dessa forma e peço perdão.
Eu digitei o que eu havia escrito durante algumas aulas e no meu horário de trabalho, mas o word perdeu a maior parte inesperadamente.
Hoje à noite, ou assim que chegar em casa, termino o que falta do terceiro capítulo e posto, sem falta.

Que a paz do Senhor esteja com todos vocês.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Capítulo 2 -

            Eu me via sozinha. Completamente sozinha num mundo que, como meu pai me alertara horas antes, não teria mais paz. Talvez eu pudesse ter pensado em permanecer trancada em casa até eu não poder mais sobreviver. Porque tinha medo de ser morta assim que saísse. Eu pensei na igreja que a minha família freqüentava. Será que havia alguém que tinha ficado também?
            Provavelmente ninguém havia ficado. Eu devia ser a única pessoa em todo o globo que não permitira que a verdade me libertasse. Porque uma vez eu ouvi minha mãe dizer algo parecido com, “conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. Eu conhecia a verdade. Mas não havia permitido que ela me libertasse, porque eu não acreditava que era verdade.
            Por que, eu me perguntava, eu não aceitei no momento seguinte ao que meu pai terminou de falar sobre como seria a volta de Jesus? Eu estaria lá com a minha família.
            Eu queria apenas ter um pouco mais de conhecimento, saber o que aconteceria a seguir. Saber o que eu podia fazer para me proteger. Eu precisava de alguém ou alguma coisa que me ensinassem o que fazer.
            Deitada no sofá da sala, olhei para cima. Não sabia a quem recorrer.
            - Deus? – talvez fosse o único em quem eu podia pensar. – Você ainda está aqui na terra?
            Se Ele estivesse, por que Ele responderia àquela que sempre o desprezou? Deixei isso de lado e subi para o quarto da minha irmã. Não tinha coragem de tocar suas roupas que estavam deixadas em cima de sua cama. Olhei para sua mesa, onde fazia seus estudos e vi suas fotografias. Uma dela sozinha, uma dela comigo, uma com o namorado, uma com meus pais, uma de toda a família e duas ou três com seus amigos. Todos aqueles haviam ido, menos eu.
            Mexi em seus papéis, cadernos e blocos de anotações. Em cada um deles tinha uma parte da Bíblia escrita. Havia livros que falavam de Deus. Minha irmã sonhava em ser pastora. Sonhava em abrir igrejas por todo o mundo. Eu achava tudo isso uma idiotice. Achava ridículo, perda de tempo. Ela vivia uma vida em santidade e agora estava vivendo a recompensa por ter sido tão fiel.
            Então eu vi um caderno que nunca havia visto junto às suas coisas. Meu nome estava escrito em vermelho na capa do caderno. Eu queria saber o que tinha naquele caderno, mas tinha muito medo. Na capa de trás estava escrito, também em vermelho, “você se verá sozinha e se perguntará: ‘por que não lhes dei ouvidos? Eles só queriam o melhor para mim’”.
            Desci com o caderno de baixo do braço e sentei-me no sofá, tentando conseguir coragem para abri-lo e ver o que minha irmã queria. Eu tinha a sensação de que nunca mais estaria em silêncio: a cada segundo, ouvia-se uma explosão. Barulhos de carros colidindo, aviões caindo em toda a cidade, pessoas gritando desesperadas, helicópteros prontos para resgatar os que sobreviveram ou não foram levados.
            Eu respirei fundo e disse para mim mesma que abriria o caderno.

sábado, 31 de janeiro de 2009

Talvez não seja tarde.

Capítulo 1 -



            Eu vivia aquela cena outra vez. Era assim todo dia. Aproximadamente às 4h da tarde, eu e meu pai nos encontrávamos na cozinha. Ele sentava-se à mesa e lia aquele mesmo livro que lia todos os dias e eu preparava um copo de leite achocolatado para mim.
            Duas colheres e meia de chocolate em pó e eu girava a colher lá dentro até que o pó estivesse dissolvido. E eu observava meu pai com lamento.
            Nunca acreditei naquilo em que meus pais e minha irmã mais velha viviam. Nunca acreditei em sequer uma palavra do que aquele livro que meu pai lia todas as tardes fielmente, que minha mãe lia antes de dormir e ao levantar e que minha irmã sempre que tinha vontade ou não tinha nada mais o que fazer.
            Para mim, aquilo eram apenas fantasias, mentiras e ilusões. Eu me sentia mal por vê-los, de acordo com o que eu pensava, sendo enganados todos os dias.
            Meu pai acompanhava cada palavra daquele livro com tanto fascínio e atenção, e aquilo me desapontava.
            - Por que você leva isso a diante? – perguntei bebendo um gole do meu leite.
            - Eu ainda tenho esperanças de que você creia. – meu pai era sempre calmo e educado, ele sempre tinha muita paciência ao falar comigo, ainda que fosse algo que o ofendesse, como isso...
            - Eu ainda tenho esperanças de que vocês abram os olhos e voltem para o mundo real -...só que o problema era que eu não me importava se ele se sentia ofendido ou não, mesmo sendo a pessoa que eu mais amava em toda a terra.
            - Filha, escute. – ele virou a página do livro e tornou a olhar para mim. – Estes são os trechos que convenceram também a sua irmã a acreditar. Quero dizer, ela acreditava, mas tinha suas dúvidas. Ela aceitou Jesus logo após eu ter lido para ela. Posso ler?
            Eu revirei os olhos e assenti, sem vontade.
            - Não significa que com você vai ser igual. – ele disse – Mas o seu tempo vai chegar. Veja, aqui estão citados os sinais de que a volta de Jesus e o arrebatamento da igreja estão próximos. Está escrito bem aqui – ele enfatizava cada uma das palavras da ultima frase apontando para o trecho que queria que eu soubesse. – “Uma nação vai guerrear com a outra e um país atacará o outro. Em vários lugares haverá falta de alimentos e tremores de terra. Essas coisas serão como as primeiras dores de parto”, ou seja, as guerras, a miséria e os desastres naturais serão como os primeiros sinais de que Ele está perto, como que um aviso, assim como as dores que uma mãe sente horas antes de dar a luz.
            Confesso que por alguns instantes eu assimilei cada notícia que eu via na televisão, com tudo isso o que meu pai dizia. Como eles poderiam saber, eu pensei, que tudo isso aconteceria, se esse livro fora escrito milhões de anos atrás?
            Por esses instantes, minha expressão foi de espanto ou interesse, mas eu não queria admitir para mim mesma que eu estava... “Caindo na dele”.
            - E o que vem agora... Bom, você pode continuar não acreditando, mas eu acredito e tenho medo de você ainda não ter aceitado quando acontecer. – espera um pouco! Aquilo que eu vi acumulado na parte inferior de seus olhos eram... Lágrimas?
            Eu engoli seco.
            - Você, com certeza conhece a história da Arca de Noé, independente de acreditar ou não. Noé e toda a sua família eram os únicos que serviam e adoravam verdadeiramente ao Senhor, todo o resto do povo daquela época desprezava e odiava Deus, por isso Ele mandou a chuva, para que acabasse com todos, menos Noé, a quem Ele havia avisado sobre a chuva e mandado construir uma arca para ele e sua família. Quando Jesus voltar, acontecerá da mesma forma. Os santos que amavam a Deus subirão aos céus, e aqueles que O desprezavam, ficarão aqui e viverão os piores anos de suas vidas. – ele desviou o seu olhar do meu e pôs o dedo indicador sobre um pequeno número 40, no canto direito da página, quase exatamente na metade dela. – “Naquele dia dois homens estarão trabalhando na fazenda: um será levado e o outro, deixado. Duas mulheres estarão no moinho moendo trigo: uma será levada, e a outra, deixada. Fiquem vigiando, pois vocês não sabem em que dia vai chegar o seu Senhor”. Será de repente, ninguém sabe quando nem como, mas vai acontecer e você viu que não está longe.
            Eu estava cansada de ficar em pé, sentei-me na cadeira em frente ao meu pai e suspirei com desprezo.
            - Se isso fosse mesmo verdade, se fosse mesmo acontecer – eu comecei –, eu ficaria então?
            Uma daquelas lágrimas que estavam acumuladas na parte inferior de seus olhos, fez questão de descer rolando sobre suas bochechas. O que o afligia tanto? Eu pensava, se fosse verdade, ele subiria, então não tinha porque ele se lamentar por mim.
            - Infelizmente.
            - Certo. – eu me ajeitei na cadeira, apoiando minha cabeça em minhas mãos e o encarando. – E o que, de tão horrível, aconteceria comigo se eu ficasse? Quero dizer, se tudo isso acontecesse mesmo.
            - Seria horrível. Os que ficarão serão os maus, aqueles que cometiam crimes e barbarias e aqueles que não temiam a Deus. Você viverá em um mundo sem amor, sem paz. Nunca mais haverá paz aqui. Todos se odiarão mais e mais. O número de mortes por segundo aumentará e vocês serão apossados por um homem que matará aqueles que decidirem servir a Deus, ou fará trabalhar para ele, contra Deus, os que permanecerem sem aceitar. Eu não quero que você viva nesses dias.
            - Papai – eu dei um pequeno sorriso e toquei sua mão. – Eu acho impossível que alguma coisa dessas aconteça. É fantasia, é bobagem. Não acredite nisso.
            Ele negou com a cabeça. Parecia estar realmente chateado, realmente triste. Mas, o que eu podia fazer? Não acreditava e nunca acreditaria. Ou será que acreditaria?
            - Papai, eu te amo mais do que qualquer coisa na minha vida. – levantei e dei a volta na mesa, beijando seu rosto. – Isso basta. Eu acreditar ou não nisso que você diz não muda o que eu sinto.
            Ele também beijou meu rosto. Eu me afastei para levar meu copo até a pia. Virei-me de volta para onde meu pai estava, e ele olhava para o canto do teto, sem piscar. Seus olhos brilhavam demonstrando o mesmo fascínio que demonstravam quando liam a Bíblia.
            Olhei para a mesma direção e não vi absolutamente nada. Eu me aproximei e olhei de perto, para ele.
            - Papai? – eu chamei, mas ele não respondeu.
            Eu o chamei novamente e estiquei meu braço para tocá-lo. Mas quando fiz isso, uma coisa aconteceu. E eu não pude acreditar.
            Um facho enorme de luz se formou diante dos meus olhos, quase os cegando. Era como se meu pai tivesse entrado naquela luz, deixando todas as suas peças de roupa, seus sapatos, seus óculos e tudo o que tinha em seus bolsos caírem no chão e por cima da cadeira onde estava sentado. E a luz foi diminuindo aos poucos, até formar-se uma pequena bola de luz. Essa bola subiu, e eu logo a perdi de vista.
            - Não. – eu disse baixinho, recuando de perto da mesa.
            Eu não podia acreditar. Eu não acreditava e não queria acreditar. Era mesmo aquilo o que estava acontecendo? Tudo o que meu pai havia acabado de dizer era mesmo verdade e estava acontecendo diante dos meus olhos?
            - Não! – agora eu berrava. – Pai!
            Eu realmente estava desesperada. Não podia estar vivendo aquilo. Por que eu não acreditei?
            Subi correndo as escadas e forcei a porta do quarto da minha irmã, para que abrisse. Quando abri, me deparei com suas meias, vazias na beirada da cama e logo acima, sua calça, depois sua camiseta e ao lado seus anéis, inclusive aquele que ela tinha como símbolo de um compromisso que havia feito com Deus. E sobre a camiseta, estava sua Bíblia. Aquele livro que eu não dava o mínimo valor para quando ela lia.
            Minha mãe não estava em casa. Ela tinha saído horas antes para trabalhar. Mas eu não duvidava de que a mesma coisa havia acontecido com ela. Pensei em ligar para o trabalho, mas eu simplesmente caí em frente à porta do quarto da minha irmã, e não tive mais forças para levantar. Ali fiquei por algumas horas, chorando sem cessar, me lamentando por ter sido tão ignorante. Por nunca ter aceitado a verdade em que a minha família vivia.
            O telefone tocou. Eu desci correndo para atender, depois de ter retomado as minhas forças. Era do trabalho da minha mãe. Só haviam dado, não só pela sua, mas pela falta de várias outras funcionárias, agora.
            - Rebeca? – Hector disse. Ele era o chefe da minha mãe. Era um homem mau, que tinha apenas ódio no coração. Agora isso não fazia diferença. Eu ter sido uma pessoa boa e que não acreditava e ele ter tido ódio no coração por toda a vida acabara se tornando exatamente a mesma coisa. – Você foi a única pessoa com que eu consegui contato. – o que era óbvio; todas as famílias de todas as pessoas que haviam desaparecido também haviam desaparecido. – Sua mãe desapareceu e deixou as roupas. Ela e outras inúmeras pessoas. É muito estranho. É horrível. E nas ruas está um caos, desespero total e...
            Eu não precisava ouvir mais nada, apenas ter certeza de que a minha mãe tinha sido... Arrebatada. Desliguei o telefone e fui até a janela de casa, onde dava para ver a rua. Na esquina haviam dois carros colididos pelo motivo que eu já sabia, e no gramado do meu vizinho da frente, as roupas das crianças estavam caídas no chão, junto com os brinquedos que provavelmente estavam em suas mãozinhas.
            Já não conseguia chorar. Apenas suspirava. Estava totalmente sozinha e tinha medo de sair na rua. Tinha medo de ligar a televisão e ver o que estava acontecendo no resto do mundo. Tinha medo de telefonar para os meus amigos. Na verdade, eu já não queria mais ter contato com eles. Não queria mais ter contato com quem tinha ficado. Quer dizer, eu queria mesmo encontrar outra pessoa que, como eu, vivia ao lado da verdade, mas não acreditava. Talvez essa pessoa existisse. Ou talvez eu ficasse sozinha até o fim. Mas eu não fazia idéia de quando seria o fim.